"Dona Sinhá e o Filho Padre" de Gilberto Freyre

"Dona Sinhá e o Filho Padre" de Gilberto Freyre

"Dona Sinhá e o Filho Padre"
de Gilberto Freyre

Livros do Brasil - Lisboa
Colecção Livros do Brasil Nr. 69
236 Páginas

É a surpreendente estreia de Gilberto Freyre na ficção. Estreia previsível. Gilberto seria ficcionista quando quisesse. O novelista in fieri já se anunciara no poder de visão artística da trilogia iniciada com Casa-Grande & Senzala. E na prosa de Nordeste, onde a ecologia se faz sensualidade e poética. Mas o interesse da "seminovela" gilbertiana não provém apenas desse pormenor da sensibilidade do autor. Ele se amplia se inserirmos Dona Sinhá e o Filho Padre no contexto da ficção brasileira e, ainda, da novela contemporânea. Porque se trata de obra duplamente original: a) por suas soluções inovadoras da estrutura básica da novela enquanto género literário; b) pelo tratamento, literário e cientìficamente válido, de um tema insidioso: o do homossexualismo masculino. Entre essas soluções, são mais perceptíveis: a intercessão de diversos tempos psicológicos, culturais e sociais numa história de amor, digamos, intemporal; a técnica da psicobiografia; o emprego adequado de notícias de jornal para a recriação de momentos de um passado também coletivo, onde o real se torna ficção. O tema complexo do homossexualismo-mal tratado, literariamente, antes de Dona Sinhá e o Filho Padre (Gilberto soube revivê-lo com imparcial acuidade de psicólogo, de sociólogo e de poeta. Nem a apologia gidiana, nem a caricatura envergonhada de Proust. O homossexualismo como fenómeno humano que exige antes compreensão e respeito que defesa ou escárnio. Esteticamente , a " seminovela" gilbertiana aparece realizada em todas as múltiplas intenções do autor.

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Etiquetas: Literatura

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Raul Ribeiro

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