"Os Canibais" de Álvaro do Carvalhal - 1ª Edição de 1984

"Os Canibais" de Álvaro do Carvalhal - 1ª Edição de 1984

"Os Canibais"
de Álvaro do Carvalhal

Prefácio de Manuel João Gomes

1ª Edição de 1984
Edições Rolim
Coleção Fantástico
62 Páginas

Em «Os Canibais», o conto de culto do género fantástico português que empresta o título a este livro, adaptado habilmente ao cinema por Manoel de Oliveira, seguimos o desespero de Margarida e do visconde de Aveleda, separados por um corpo monstruosamente mutilado Embora excluído do cânone literário oitocentista por ser tido como escritor maldito, Álvaro do Carvalhal ensaia aqui uma das experiências mais notáveis do romantismo português, dada à estampa pela primeira vez em 1868.

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O visconde diz ele com afectado mistério parecia que de propósito se recusava a aparecer para nos obrigar a esperá-lo para o almoço. Mas eu que sou velho e matreiro achei meios de me vingar. Fui procurá-lo ao próprio quarto.
E assanhou-lhe o masculino pudor diz sorrindo o peralta. Está visto.
Pelo contrário. Não encontrei lá sombras disso.
Como assim! Pois
O quarto estava deserto, mas saturado dum cheiro
A ambrósia provavelmente.
Não. A carne assada. Meu genro, cada vez estou mais convencido, um homem de inqualificáveis caprichos, duma rara excentricidade. Saiu, ninguém sabe quando, nem para onde; ao menos não há criado que o diga; saiu com noiva e deixou nas brasas do fogão um imenso pedaço de carne, quase reduzido a cinzas, com excepção da parte superior, que repele o mais sorumbático fastio.
E então?
Então aquilo deve ser alguma preciosidade da inventiva culinária do visconde. E para seu castigo lembrei-me de lhe pregar uma pirraça, que, por cima, há-de fazê-lo rir. Vinde almoçar comigo.
Mas não será indiscrição? observa o magistrado.
Sou eu o responsável. Depressa! que não venha ele no entretanto. Pouco depois entrava o velho folgazão com os dois filhos na câmara dos desposados, munido ele próprio dos apetrechos indispensáveis para o notável festim.
O sabor da carne não correspondia à aparência. Era excessivamente insulsa, viscosa e adocicada. Urbano Solar, desiludido, afirmava que só a sua experiência saberia esburgar os ossos convenientemente, assim como só o apetite saberia tolerar o dissaborido manjar. magistrado acabava de cair num reflexivo abatimento, encarando com olhos desvairados já na configuração da insulsa iguaria, já no lugar em que fora encontrada. Supunha ter tocado com a faca alguma coisa como uma caveira humana transformada pela acção do fogo.
Excerto

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Nasceu em Padrela, no concelho de Valpaços, a 3 de fevereiro de 1844. Iniciou a sua atividade literária com 17 anos, quando, ainda aluno do liceu, publica a peça O Castigo da Vingança. A escolha de temas profundamente inquietantes, onde se cruzam o fantástico, o exótico, a ironia e o medo, fazem dele um caso singular na literatura oitocentista portuguesa. Longo seria o caminho até que as letras portuguesas lhe abrissem o seu corredor, reconhecendo o valor inestimável das narrativas recolhidas em Contos, que tentou ao máximo preparar antes de ser vitimado por um aneurisma. Morreu a 14 de março de 1868, com apenas 24 anos, enquanto frequentava o quarto ano de Direito na Universidade de Coimbra.

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Etiquetas: Literatura

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