O Crime de Camarate-Ricardo Sá Fernandes..Sá Carneiro
O Crime de Camarate-Ricardo Sá Fernandes..Sá Carneiro
Preço: 10 €
O Crime de Camarate-Ricardo Sá Fernandes..Sá Carneiro
Muito bom estado. Bertrand Editiora.1KG.Sá Carneiro
Depois de ler "O Crime de Camarate", põe-se-me uma questão, uma mera questão intelectual, incontornável, como agora é moda dizer, depois do contacto com a assustadora realidade contida nas mais de 600 páginas do livro do advogado Ricardo Sá Fernandes: é possível sentar num tribunal e julgar dois ex-procuradores-gerais da República e outros responsáveis do Ministério Público, alguns responsáveis antigos e actuais da Polícia Judiciária, e ainda uma série de juízes? Não me parece, eles são a lei, julgar a lei é pô-la em causa e pô-la em causa é abalar os alicerces do regime... Mas, sem ser num tribunal, onde é que se pode questionar e responsabilizar seriamente quem, durante 20 anos, fechou os olhos a tudo o que pusesse em causa a tese oficial, segundo a qual o Cessna que transportava Sá Carneiro e Amaro da Costa caíra por acidente?Não sendo, portanto, possível, julgar o sistema, a leitura deste livro torna-se, em certa medida, um incómodo pois, uma vez terminada, resta a indignação e um sentimento de impotência. Ah, e também o cansaço, porque "O Crime de Camarate" cansa muito, pela atenção e disponibilidade mental que exige: a história é uma enumeração de factos, sempre apoiados em documentos, são páginas e páginas de relatórios, de actas e acórdãos, de peritagens, de opiniões técnicas, e a vantagem de tudo isso é permitir sempre ao leitor fazer o seu juízo sobre o que se passou. A princípio, atacar a tese do acidente, defendida pelo Ministério Público e pelos tribunais, podia ser uma ameaça à estabilidade política. Compreende-se, em certa medida, embora não se possa aceitar. Vinte e dois anos depois de Camarate, já não são de recear abalos no regime democrático, mas mantém-se o sigilo e agora é mais grave porque se percebe que a tese do crime ameaça alguém ou alguma coisa que o sistema está decidido a proteger.
Depois de ler "O Crime de Camarate", põe-se-me uma questão, uma mera questão intelectual, incontornável, como agora é moda dizer, depois do contacto com a assustadora realidade contida nas mais de 600 páginas do livro do advogado Ricardo Sá Fernandes: é possível sentar num tribunal e julgar dois ex-procuradores-gerais da República e outros responsáveis do Ministério Público, alguns responsáveis antigos e actuais da Polícia Judiciária, e ainda uma série de juízes? Não me parece, eles são a lei, julgar a lei é pô-la em causa e pô-la em causa é abalar os alicerces do regime... Mas, sem ser num tribunal, onde é que se pode questionar e responsabilizar seriamente quem, durante 20 anos, fechou os olhos a tudo o que pusesse em causa a tese oficial, segundo a qual o Cessna que transportava Sá Carneiro e Amaro da Costa caíra por acidente?Não sendo, portanto, possível, julgar o sistema, a leitura deste livro torna-se, em certa medida, um incómodo pois, uma vez terminada, resta a indignação e um sentimento de impotência. Ah, e também o cansaço, porque "O Crime de Camarate" cansa muito, pela atenção e disponibilidade mental que exige: a história é uma enumeração de factos, sempre apoiados em documentos, são páginas e páginas de relatórios, de actas e acórdãos, de peritagens, de opiniões técnicas, e a vantagem de tudo isso é permitir sempre ao leitor fazer o seu juízo sobre o que se passou. A princípio, atacar a tese do acidente, defendida pelo Ministério Público e pelos tribunais, podia ser uma ameaça à estabilidade política. Compreende-se, em certa medida, embora não se possa aceitar. Vinte e dois anos depois de Camarate, já não são de recear abalos no regime democrático, mas mantém-se o sigilo e agora é mais grave porque se percebe que a tese do crime ameaça alguém ou alguma coisa que o sistema está decidido a proteger.
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Jorge Medeiros
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